Telemedicina: como o Sabará se conectou ainda mais aos pacientes durante a pandemia
Ser atendido à distância por médicos, por meio de plataformas virtuais, ainda não era uma prática até a chegada da pandemia. Em abril deste ano, o governo federal sancionou a Lei 13.989, permitindo o uso da telemedicina durante a crise causada pelo novo coronavírus. Segundo a legislação, a ferramenta deve ser aplicada para fins de assistência, pesquisa, prevenção de doenças e lesões e promoção de saúde.
Apesar da autorização do atendimento remoto ter sido feita somente neste momento de pandemia, e, ainda em caráter emergencial, o assunto já vem sendo amplamente discutido pelos setores ligados à saúde. O Conselho Federal de Medicina (CFM), inclusive, publicou em 2002 uma resolução (CFM 1.643/2002) que define e disciplina a prestação de serviços através da telemedicina. No entanto, o assunto ainda aguarda regulamentação.
Aqui no Sabará Hospital Infantil já acompanhávamos os debates sobre o uso da telemedicina e tínhamos um projeto interno que estudava o serviço. Quando a pandemia chegou e impôs o seu uso como necessidade para diminuir os riscos de contaminação, pudemos dar respostas mais rápidas para essa nova realidade.
Treinamento
Antes de começarmos a incorporar a telemedicina no nosso dia a dia, realizamos um treinamento do corpo clínico que começaria a atuar nesse novo formato. O Dr. Thales Oliveira, pediatra e supervisor do pronto-socorro do Sabará, explica que o preparo envolveu tanto questões mais técnicas, como o uso da plataforma utilizada para atendimentos e emissão da certificação digital, como também o suporte para que alguns médicos se sentissem seguros para oferecer atendimentos à distância. “Os treinamentos ajudaram a diminuir o receio de alguns médicos sobre essa modalidade de atendimento e, com isso, permitiu que a gente tivesse uma equipe bem capacitada para realizar as teleconsultas”, conta.
Ao longo da pandemia, diferentes modalidades da telemedicina foram sendo incorporadas aos serviços oferecidos pelo nosso hospital. Para além do próprio contexto trazido pelo coronavírus, essa ampliação ocorreu a partir da identificação das necessidades dos pacientes e seus familiares.
Teleconsulta de emergência
A teleconsulta de urgência foi a primeira modalidade implementada pelo Sabará Hospital Infantil. Em meados de março, com receio de contaminação pelo Covid-19, os pais começaram a não trazer os filhos ao pronto atendimento. Oliveira lembra que quando se percebeu o receio das famílias de virem ao hospital, surgiu a questão: “Uma preocupação que surgiu foi: essas crianças que não estão vindo mais no pronto-socorro, como podemos ajudá-las?”.
Para auxiliar essas famílias e evitar deslocamentos desnecessários, o hospital passou a atender casos mais simples por consulta remota. Entre as situações atendidas estão resfriados leves, irritações e alergias na pele, constipação e diarreia. O atendimento é feito todos os dias pelos pediatras do pronto atendimento, inclusive nos finais de semana e feriados, com agendamentos via internet.
Novamente, Oliveira destaca que o treinamento foi fundamental, pois exigia que o profissional adotasse critérios e entendesse como seria o processo com a família. Uma das condições, por exemplo, é que a criança sempre esteja presente durante a consulta. “Precisamos estabelecer roteiros para garantir que a qualidade do atendimento presencial seria a mesma que os médicos ofereceriam para aquelas famílias na consulta virtual”, reitera.
Outra questão trabalhada com os profissionais de saúde que realizam atendimento à distância era o entendimento das limitações do exame físico feito virtualmente, estabelecendo quais eram as situações que deveriam ser encaminhadas para atendimento no hospital. Entre abril e setembro de 2020, foram realizadas 453 teleconsultas de urgência, sendo os principais diagnósticos problemas respiratórios (33%) e febre (17%). Desses atendimentos, 83% foram resolvidos totalmente via teleconsulta, com o médico passando uma prescrição ou orientação, sem necessidade da criança ir à unidade hospitalar.
Telemonitoramento
Outra situação identificada foi a insegurança dos pais de crianças com suspeita de contaminação por Covid-19. Após a realização do teste PCR no pronto atendimento, os pacientes com sintomas leves são liberados para aguardar em casa o resultado — que costuma levar 48h para sair.
Dr. Oliveira conta que no início da pandemia em decorrência da falta de informações sobre a doença, e também devido às fake news, os pais ficavam aflitos ao receber um diagnóstico positivo, mesmo que o filho não estivesse apresentando um quadro grave. “Nós sentimos as famílias inseguras e precisávamos passar algum conforto, um cuidado maior, para essas famílias que nos procuravam e que recebiam o diagnóstico positivo. Por isso, iniciamos naquele momento o telemonitoramento”.
Dessa forma, foi organizada uma nova forma de oferecer acompanhamento à distância. Nos casos confirmados de infecção pelo coronavírus, um profissional do pronto atendimento entra em contato, em até 48h, para informar o resultado. Nesse primeiro telemonitoramento, já são sanadas as dúvidas, passadas orientações para a família sobre medidas de isolamento e de sinais de alerta, para que os pais saibam identificar quando é preciso ir até o hospital. Também é um momento em que o próprio médico pode avaliar a evolução do quadro da criança e confirmar se há a necessidade de um exame presencial.
Após 7 dias do primeiro telemonitoramento, a equipe entra em contato novamente para uma segunda avaliação. Nessa etapa, o médico analisa novamente a situação da criança e colhe informações sobre o desfecho da doença, se houve necessidade de internação ou se evoluiu favoravelmente. Em seguida, são dadas as orientações de como a família deve seguir a partir daquele momento.
Até outubro, das 211 crianças diagnosticadas com Covid-19 e que receberam alta do nosso pronto atendimento, 44% delas já estavam assintomáticas em até 48h e 80% não apresentavam mais sintomas em até 9 dias. E apenas 7 crianças precisaram ser internadas. O Dr. Oliveira, ao analisar esses dados, chama a atenção para a segurança do acompanhamento remoto para crianças com sintomas leves. “O telemonitoramento permitiu o acompanhamento seguro dessas crianças, impediu que elas fossem desnecessariamente ao pronto-socorro e passou para a equipe essa percepção de que era seguro, sim, dar alta para essas crianças com suspeita de Covid-19”.
Follow up no pronto-socorro
Em um segundo momento da pandemia, os pais voltaram a procurar o pronto atendimento quando necessário. No entanto, ainda havia um receio em permanecer no hospital, apesar de todos os protocolos de higienização e segurança adotados, entre eles a sala de espera separada para pacientes com queixas respiratórias.
Para auxiliar nessa situação, criamos uma outra modalidade de atendimento remoto: o follow up no pronto-socorro. Algumas crianças que chegavam para atendimento de urgência e necessitavam realizar exames como de urina, influenza e strep test (teste para diagnóstico de faringite bacteriana), passaram a receber alta após a coleta do exame. Dessa forma, esses pacientes poderiam retornar mais rápido para casa, diminuindo a permanência no hospital, com a consulta sendo concluída via telemedicina.
O Dr. Oliveira explica que, para disponibilizar esse formato de atendimento, também foram feitos alinhamentos com a equipe. “Estabelecemos critérios para quais crianças poderiam participar deste novo fluxo: as crianças deveriam estar com bom estado geral, sem nenhuma comorbidade e que não teriam indicação de internação caso o exame desse alterado”, ressalta.
Quando o pediatra recebe o resultado do exame, entra em contato com a família, já em casa, para dar o diagnóstico e passar orientações ou receita médica online. Dessa forma, conseguimos reduzir, em média, o tempo de permanência no pronto-socorro de 2h para 44 minutos. “As famílias gostaram muito. Elas sentiram que estavam menos tempo no hospital, menos tempo expostas em um ambiente hospitalar e de urgência”, relata Oliveira .
Teleconsulta com especialistas pediátricos
Desde abril, também começamos a oferecer consultas online com nossos especialistas do Centro de Excelência. Uma forma que encontramos para acompanhar pacientes que estão em tratamento, dando orientações e todo o suporte necessário.
Temos mais de 32 especialidades pediátricas disponíveis, entre elas cardiologia, neurologia, endocrinologia, pneumologia, otorrinolaringologia e dermatologia. Todas elas realizam atendimento por telemedicina. Os agendamentos também são feitos pela internet.
Avaliação pré-anestésica
Para dar continuidade às cirurgias eletivas em meio a pandemia com segurança, reorganizamos o atendimento dado às crianças e famílias no preparo para o procedimento. Mais uma vez, a fim evitar deslocamentos desnecessários, usamos a telemedicina para ir até os pacientes.
Entre um e dois dias antes da cirurgia, o anestesista entra em contato com a família e faz toda avaliação de forma virtual. No casos de procedimentos mais complexos, um enfermeiro também procura os pais para tirar dúvidas e orientar sobre as etapas do período de internação.
Ainda para oferecer mais segurança aos pacientes cirúrgicos, antes do procedimento, enviamos para a criança e seus familiares, que moram até 50 km do hospital, um kit com máscaras descartáveis e orientações para o dia da cirurgia. Uma outra mudança que tivemos por aqui é que, ao chegar ao hospital, o paciente e acompanhante são encaminhados diretamente ao andar de internação, por meio de um elevador privativo. Sem passar pela recepção, a maioria dos procedimentos administrativos é resolvida no quarto.
A forma como o Sabará Hospital Infantil incorporou o uso da telemedicina em meio a pandemia foi um dos assuntos do 5º Congresso Internacional Sabará, realizado de forma virtual, entre os dias 19 e 21 de novembro de 2020. O tema fez parte do Simpósio Experiência Sabará com Covid-19. Para quem não participou do evento, a partir do dia 21 de dezembro será possível adquirir as palestras na plataforma de EAD do Instituto PENSI. Alguns temas, ligados a questões sociais, terão acesso gratuito.
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