O bichinho de estimação morreu; e agora como contar para a criança?
O bichinho de estimação morreu; e agora como contar para a criança?
Oba, tem um bichinho em casa! É esse o clima de entusiasmo e brincadeiras que costuma contagiar uma família que traz para o seu convívio um cachorro ou gato, por exemplo. A interação com os animais de estimação traz para as crianças muita diversão, mas também muitas oportunidades de aprendizados, como a responsabilidade do cuidado com outro e sobre o próprio ciclo da vida.
Sabemos que a morte de um pet é um momento delicado, que mexe com as emoções dos adultos e das crianças. No entanto, evitar o assunto ou mentir para os pequenos não é o caminho. Precisamos buscar formas de conversar com os nossos filhos dando espaço para que eles também possam expressar seus sentimentos e consigam elaborar a perda.
Acompanhe o texto para entender melhor como auxiliar as crianças emocionalmente nessa situação. Conte com a gente!
Mentira não protege
Às vezes, para poupar os filhos do sofrimento, os pais acabam optando por não dizer a verdade sobre a morte do bichinho, falando que o pet sumiu ou, ainda, buscando substituir por um animal parecido. No entanto, por mais bem intencionada que essa atitude seja, a psicóloga do Sabará Hospital Infantil, Roseli Chieco, destaca que os pais precisam preservar a relação de confiança com os filhos. “A honestidade é fundamental. Crianças, principalmente a partir dos seis ou sete anos, já conseguem identificar as mentiras dos adultos, entender as contradições”, afirma Chieco.
A psicóloga ainda alerta que a falta de transparência pode trazer reflexos futuros: “Existem estudos que comprovam que crianças que crescem em ambientes permeados por mentiras, apresentam maior propensão a utilizar este recurso quando adultos. É também uma quebra de confiança não só no pai e na mãe, mas uma quebra de confiança nas pessoas em geral. Então, pode parecer que é uma mentira pequenininha para proteger da dor, mas às vezes provoca um estrago gigante nas várias áreas de relacionamento dessa criança, ainda na infância e na idade adulta também”.
Falar a verdade, mas sem detalhar
O diálogo amoroso e acolhedor é sempre um dos primeiros passos para nos aproximarmos dos pequenos. Nesse sentido, nossa psicóloga orienta que os pais conversem com os filhos sobre a morte do bichinho sempre respeitando o nível de desenvolvimento da criança e sem assumir um tom trágico. “Falar a verdade não significa que você tenha, por exemplo, que contar todos os detalhes da situação do que aconteceu. Pensando na questão da morte dos pets, é importante tratar de acordo com o nível de compreensão da criança”, ressalta Chieco.
Nesse sentido, busque uma linguagem acessível para a idade do seu filho, oferecendo respostas simples e verdadeiras. Chieco aponta ainda que ao criar uma comunicação aberta com os pequenos, compartilhando também seus próprios sentimentos, os pais dão abertura para que a criança, junto com a família, construa meios de processar a experiência da morte. “Esse pai e essa mãe também estão sofrendo, é um momento importante para se mostrar humano para o filho ao contar que o bichinho ficou doente ou que sofreu um acidente. Existem várias situações possíveis, mas contar a verdade é fundamental em todas as fases da vida”, avalia a psicóloga.
Quebrando tabus: a importância da experiência do luto
Não é por acaso que muitos pais têm dificuldade em falar sobre a morte dos bichinhos com os filhos. Culturalmente, o assunto costuma ser ocultado também na conversa entre os adultos por gerar medo e angústia. Contudo, a morte pertence à condição humana; ainda que se negue, em algum momento teremos que lidar com ela. Auxiliar nossos filhos no desenvolvimento de condições emocionais para enfrentar essa experiência, é o melhor amparo que podemos dar diante de uma dor inevitável.
Dessa forma, Chieco chama atenção para a necessidade de mudarmos nossa relação de estranhamento com a morte, passando a vê-la como parte da vida. “A gente precisa naturalizar essas questões. Estamos vivendo uma pandemia e a morte chegou na vida das crianças não só pelos pets. A gente está vivendo um momento muito atípico de muitas mortes, se não na nossa família, na família do amigo, do vizinho. E não acredito que esse tema precise fazer parte da conversa na mesa de jantar todos os dias, mas é importante saber que existe, que faz parte do ciclo da vida”, recomenda a psicóloga.
E, no caso dos bichos de estimação, a profissional aponta como a situação pode ser trabalhada para ressignificar os sentimentos negativos: “É uma oportunidade de entender e até de valorizar a vida, a presença e a convivência que a gente tem, porque sabemos que um pet não vive o mesmo tempo que o humano. Novamente, não é focar na morte, mas entender que ela vai chegar, e, quando chegar, nos permitir entender que houve vida ali também. Não foi a morte que definiu a experiência do bichinho na família. Muito pelo contrário, normalmente, as pessoas lembram dos momentos bons”.
Para ler outros conteúdos de apoio ao desenvolvimento infantil, acesse os links:
Série “Reflexões sobre o Luto”
Episódio 1 | Cuidados Paliativos em crianças
https://www.youtube.com/watch?v=q_koJL-KWLs
Série “Reflexões sobre o Luto”
Episódio 2 | Como falar sobre morte com as crianças
https://www.youtube.com/watch?v=yHaQliA7HlM
Série “Reflexões sobre o Luto”
Episódio 3 | Como lidar com a morte de um filho?
https://www.youtube.com/watch?v=CC49yOaSLAM
Relações de afeto contribuem para o desenvolvimento emocional e intelectual das crianças
Pandemia: como ajudar os adolescentes a lidar com os desafios do isolamento
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