Morte – A Criança e seu Entendimento
Antigamente, a morte de uma criança ou de sua mãe era uma coisa comum. Isso está presente em muitos contos infantis e histórias clássicas da literatura.
Hoje em dia, na época do politicamente correto, falar sobre morte com as crianças ou expô-las a isso parece cruel. Mas o que fazer quando temos um pequeno com doença grave, crônica ou terminal?
Desenhos animados, filmes, televisão, videogames e até mesmo livros estão repletos de imagens de morte. A criança com doença terminal, provavelmente, já teve contato com a morte, já experimentou a perda de um membro da família, amigo ou mesmo um animal de estimação.
Equívocos da imaginação de um adulto e o medo da morte são, muitas vezes, transferidos para os filhos. Tratar o fim da vida como uma parte da existência é difícil, mas pode ajudar a aliviar um pouco o temor e a confusão associados a ele.
O exercício de lidar com a morte deve começar dentro das crenças culturais e dos costumes de cada família.
O “desenvolvimento” é um termo amplo, utilizado para descrever a maturidade do processo de pensamento das pessoas. Crianças podem ser mais ou menos maduras em seu interior (e no processamento de informação) do que outras em idade similar. Sendo assim, dividimos o assunto em fases de entendimento e maturidade para compreensão da morte e das doenças:
Infantil (bebê)
Nessa faixa etária, não há noção real da morte. No entanto, os bebês podem reagir à separação dos pais, a procedimentos dolorosos e a qualquer alteração na sua rotina.
Uma criança que é doente terminal vai exigir tanto cuidado físico como emocional, para manter um ambiente confortável, como qualquer outra faixa etária. Manter uma rotina consistente é importante para ela e seus cuidadores. E como não pode comunicar verbalmente suas necessidades, o medo é, muitas vezes, expressado pelo choro.
Criança pequena
Para a criança, a morte tem um significado um pouco mais claro. Ela pode perceber boa parte da ansiedade e das emoções daqueles que estão ao seu redor. Quando os pais de uma criança (e entes queridos) estão tristes, deprimidos, com medo ou raiva, ela sente essas emoções e fica aborrecida ou com temor.
Os termos “morte”, “sempre” ou “permanente” podem não ter valor real para as crianças dessa faixa etária. Mesmo com experiências anteriores sobre o fato, elas podem não entender a relação entre a vida e a morte. O fim da vida não é uma condição permanente para os pequenos.
Criança pré-escolar
Crianças pré-escolares podem começar a entender que a morte é algo temido pelos adultos.
Nessa faixa etária, elas podem ver a morte como temporária ou reversível, como nos desenhos animados e videogames. O fim da vida é, muitas vezes, explicado à criança como “foi para o céu”. A maioria desses pequenos não compreende que a morte é permanente, que todos e cada ser vivo terão fim e que as coisas mortas não comem, dormem ou respiram.
A morte não deve ser explicada como “dormir”, para impedir o possível desenvolvimento de um distúrbio do sono. A experiência da criança é influenciada por aqueles ao seu redor. Ela pode fazer pergunta sobre “por que” e “como” o fato ocorre. O pequeno pré-escolar pode sentir que seus pensamentos ou ações tenham causado a morte e/ou a tristeza daqueles que o cercam.
A criança pré-escolar pode ter sentimentos de culpa e vergonha quando fica gravemente doente. Ela pode acreditar que é um castigo por algo que fez ou pensou. O pequeno não entende como seus pais não podem protegê-lo da doença.
Irmãos de crianças que morrem jovens também precisam de tranquilidade e conforto durante esse período de tempo.
Criança em idade escolar
Crianças em idade escolar já têm uma compreensão mais realista da morte. Embora o fim da vida possa ser personificado como um anjo, esqueleto ou fantasma, esse grupo etário está começando a entendê-lo como algo permanente, universal e inevitável.
Os pequenos podem ser muito curiosos sobre o processo físico do fim da vida e o que acontece depois que uma pessoa morre, mas podem ter medo de sua própria morte por causa da incerteza do que vem depois do além-túmulo.
Medo da perda, do desconhecido e da separação da família e dos amigos pode ser a fonte principal da ansiedade relacionada à morte nessa fase da vida.
Adolescente
Tal como acontece com as pessoas de todas as idades, as experiências passadas e o desenvolvimento emocional terão grande influência no conceito de morte para os adolescentes.
A maioria deles entende a ideia de que a morte é permanente, universal e inevitável. Os adolescentes, similarmente aos adultos, podem querer ter seus rituais religiosos ou culturais observados.
Um tema predominante na adolescência é o sentimento de imortalidade ou de ver a morte como uma possibilidade muito distante. Atitudes de negação e desafiadoras podem, de repente, mudar a personalidade de um jovem diante do fim da vida.
Um jovem pode sentir como se já não pertencesse ou se encaixasse em seu grupo. Além disso, pode acreditar que é incapaz de se comunicar com seus pais.
Outro conceito importante entre eles é a autoimagem. A doença terminal e os efeitos do tratamento podem causar muitas mudanças físicas que devem suportar. O jovem pode se sentir sozinho em sua luta, com medo e raiva.
É importante que os pais percebam que as crianças de todas as idades não respondem à morte de forma única, mas que precisam de apoio e, em particular, de alguém que vai ouvir seus pensamentos e dar garantias para aliviar seus medos.
Autor: Dr. José Luiz Setúbal