Visão geral
O diferencial de toda instituição de ponta está em conseguir oferecer em seu cotidiano um conhecimento técnico-científico estabelecido e comprovado mundialmente, dentro das melhores práticas e protocolos, bem como abrir-se às novidades e descobertas, à inovação e à pesquisa. Com esse escopo se responde com excelência à pergunta que norteia nosso cotidiano: Qual a doença que esta criança tem?
Uma nova pergunta, contudo, norteia a Humanização, outra face da excelência de nossa Instituição: Qual criança esta doença tem? Essa dimensão, a dimensão da EXPERIÊNCIA da criança e de sua família, é o foco do trabalho da Psicologia Hospitalar.
A Psicologia não é apenas a área do conhecimento científico capaz de intervir sobre o sofrimento causado pela dor, o adoecimento e a internação prolongada. A Psicologia produz conhecimento sobre a singularidade, a forma de cada um enfrentar os desafios que se apresentam, bem como as condições que geram saúde e bem-estar, sobre a dinâmica familiar e a possibilidade de retomada do desenvolvimento da criança e do adolescente.
Assim, os principais norteadores do Setor de Psicologia Hospitalar são:
- Detectar o momento em que o sofrimento gerado pelo adoecimento requer atenção especializada;
- Avaliar as condições e modos como criança e família estão atravessando a situação;
- Buscar ações e suportes necessários para que se re-estabeleçam novos equilíbrios possíveis.
A avaliação psicológica faz parte do conjunto de critérios exigidos pela Joint Commission International (JCI), o mais importante selo de qualidade dos serviços hospitalares do mundo, e no Sabará ela é desenvolvida de forma inédita, exclusivamente focada no paciente pediátrico e suas necessidades. Seguimos o modelo de consultas terapêuticas proposto por Donald Woods Winnicott, pediatra e psicanalista inglês, que pressupõe a ação simultânea da observação, escuta, avaliação e intervenção.
O conhecimento gerado neste contato permite o planejamento de uma intervenção apropriada ao tempo e objetivos da hospitalização, às necessidades da criança e às possibilidades da família. Assim, o profissional determina quais suportes são mais adequados para a criança e traça um plano de intervenção que pode abarcar desde os recursos lúdicos do HIS, o acompanhamento psicológico durante a internação e encaminhamentos externos.
História
Constituído desde 2012, o Setor de Psicologia Hospitalar nasceu em um momento em que o Sabará estava estabelecendo a expansão do número de leitos de internação e UTI (ocorrida em 2010) e criando estratégias para responder de maneira integral ao aumento de complexidade dos casos.
Entre os objetivos iniciais estão: oferecer suporte psicológico às crianças e às famílias no enfrentamento de situações complexas durante a estada hospitalar, a redução de danos e sofrimento psíquicos, bem como ampliar ações de promoção da saúde, agregando um olhar integrador à equipe assistencial.
Desde o princípio, portanto, são duas as frentes de trabalho:
- A equipe assistencial: suporte para compreender e pensar intervenções eficazes frente a diagnósticos e tratamentos complexos, bem como diante de questões de relacionamento com família/criança. A ação abrange integração, formação continuada e discussão de casos;
- A criança e a família: identificar modos em que o sofrimento incide sobre a experiência familiar provocando: refração entre a lógica do adoecimento e a lógica da doença orgânica; sintomatologia psicossomática, em que a dinâmica psicológica interfere na condução e na adesão ao tratamento; e a desestruturação da criança e da família devido a doenças/procedimentos capazes de alterar o cotidiano e/ou a perspectiva de futuro.
A recepção do serviço foi imediata. A perspectiva trazida pelo conhecimento psicanalítico e o olhar técnico para o sujeito que sofre ampliaram o campo de discussões e de tomada de decisões. Gradativamente foram estabelecidos os fluxos e instrumentos de avaliação familiar e lúdica adequados para cada fase do desenvolvimento e para situações críticas (cirúrgicas e crônicas), bem como intervenções necessárias à retomada da autonomia possível para cada criança ou adolescente.
O modelo de atenção integral ao paciente junto da equipe assistencial se estabeleceu em meados de 2014 quando foi proposto o documento Classificação de Risco Psicológico, base da prescrição da Avaliação psicológica e do Plano de Intervenção.
Distribuição/ Fluxograma
Disponível todos os dias, exceto aos finais de semana, o setor atende pacientes internados na Unidade de Internação ou na Unidade de Terapia Intensiva.
A avaliação da psicologia é solicitada pela equipe assistencial por meio do prontuário eletrônico do paciente, preenchido a partir de um documento criado pelo Setor de Psicologia, a Classificação de Risco Psicológico. Essa classificação tem o objetivo de ampliar a detecção do sofrimento psicológico das crianças e seus responsáveis para que todos os que necessitem do serviço sejam assistidos de forma eficiente.
Aplicado diariamente pela Enfermagem, esse documento busca evidenciar sinais de sofrimento em cinco áreas fundamentais: dinâmica familiar, estado emocional da criança, estado emocional dos pais, relacionamento com a equipe e postura frente ao adoecimento.
A equipe de psicologia recebe a solicitação automaticamente e realiza o primeiro atendimento em até 24 horas (excetuando-se os finais de semana). Os pacientes e seus familiares também podem solicitar o acompanhamento psicológico ao longo de sua permanência.
Feita a avaliação, o profissional que conduz o caso decide o plano de intervenção, organiza a rede de apoio específica (conheça a nossa Rede de Humanização).
Na estrutura assistencial, assim se insere o fluxo de demanda e intervenção da Psicologia Hospitalar:
Dentre as funções da equipe, além da clínica cotidiana, deve-se sublinhar a criação e participação do Núcleo de Atenção a Crianças em situação de Risco (NACRI) e a organização da Rede de Humanização do HIS.
O que fazemos de diferente?
Duas ações do Setor de Psicologia de alcance inestimável são:
- A visita de irmãos de crianças internadas nas UTIs, com o objetivo de amparar afetivamente a criança que está em tratamento, bem como aquela que ficou em casa.
- Avaliação, suporte, orientação e construção conjunta de recursos para que as famílias contem às crianças sobre seu diagnóstico e tratamento. Quando uma criança entende, dentro de suas possibilidades, o que tem pela frente, participa ativamente na direção da cura.
Uma das interfaces desta ação acontece com o grupo de Cuidados Paliativos em Pediatria. Em casos de terminalidade, a equipe multidisciplinar se dispõe a ampliar o olhar visando um cuidado capaz de integrar as dimensões do tempo de outra perspectiva, além de abranger as dimensões psicológica, familiar, biológica e espiritual. Nesses casos, o psicólogo mantém atendimentos mais frequentes, de acordo com a demanda da família e do paciente.
Outro diferencial do qual o Setor de Psicologia Hospitalar se orgulha é a construção da Rede de Humanização. Dessa Rede participam a equipe assistencial e as equipes lúdicas (Saracura, Pronto-Sorrir e voluntariado) formando uma malha multiprofissional capaz de discutir, em tempo real, as necessidades de casos de alta complexidade desde o ponto de vista técnico até as contribuições lúdicas e curativas, cruciais quando se trata de sujeitos em formação.
Por fim, na medida em que o Setor de Psicologia valoriza acima de tudo o cuidado com a experiência da criança e da família frente ao adoecimento, nossos esforços visam dar voz e forma aos modos como criança e família percebem, experimentam e compreendem o que estão vivendo. Desta premissa nasce a pesquisa: Retratos da Dor abdominal crônica recorrente na pré-adolescência. Fruto de uma parceria profícua com a professora Paulina Rocha, do Instituto Sedes Sapientiae e os professores Maria Lívia Moretto e Nelson da Silva Junior, do Instituto de Psicologia da USP. Desde 2015, foi proposta uma pesquisa-intervenção com pré-adolescentes, para que eles pudessem retratar, por meio de fotografias, a experiência da hospitalização em situações de dor aguda e crônica.
Conheça o time
Cristina Borsari
Cristina Borsari é formada pela Universidade Estadual Paulista (UNESP), é mestre em Ciências pela Faculdade de Medicina da USP, com título de especialista em Psicologia Clínica Hospitalar pelo InCor, e Neuropsicologia pelo Hospital Israelita Albert Einstein. Possui especialização em Gestão de Pessoas pela Faculdade de Saúde Pública da USP e em Psico-oncologia pela UNESP. Tem ampla experiência na coordenação de serviços de psicologia em hospitais da capital. É credenciada à Sociedade Brasileira de Psicologia Hospitalar.
Qualidade e segurança
O Setor de Psicologia Hospitalar do Sabará Hospital Infantil, sensível às necessidades dos pacientes e amparado pela eficiência de resposta às demandas institucionais, ampliou seu leque de ações específicas, a saber:
- Programa de estágios de graduação na Clínica e na Brinquedoteca;
- Visitas monitoradas de irmãos nas UTIs;
- Cuidados Paliativos;
- Núcleo de Atenção a Crianças em Situação de Risco (NACRI)
- Pesquisa “Retratos da Dor abdominal crônica recorrente na pré-adolescência”: intervenção, por meio de fotografias, sobre dor abdominal crônica na pré-adolescência.
O Setor de Psicologia Hospitalar do HIS conquistou um espaço que tem por marca uma grande liberdade na condução do trabalho, direcionado por padrões éticos e pela singularidade de cada caso. Temos o privilégio de trabalhar em nome da qualidade e do cuidado com o paciente e não da quantidade de atendimentos. Temos, ainda, o privilégio de participar de uma instituição aberta e criativa, capaz de compreender e valorizar a importância das emoções e do lúdico no trabalho em Pediatria.
Informativos para os pais
Há vários anos tem-se dado espaço e o universo dos livros infantis se expandiu exponencialmente em qualidade estética e de conteúdo. Privilegiamos alguns que têm o diferencial de acessar questões cruciais da infância: dependência, autonomia, segredos, medos, diferença entre mundo dos adultos e das crianças, o mundo de fantasia, solidão e construção de sentido.
Vale a pena conferir:
- Da pequena toupeira que queria saber quem tinha feito cocô na cabeça dela/
Autores: Werner Holzwarth e Wolf Erlbruch/ Editora: Companhia das Letrinhas
- Quando Mamãe Virou Um Monstro
Autores: Joana Harrison/ Editora: Brinque Book
- O Ratinho, o Morango Vermelho Maduro, e o Grande Urso Esfomeado
Autores: Audrey Wood e Don Wood/ Editora: Brinque Book
- O Grúfalo
Autora: Julia Donaldson/ Editora: Brinque Book
- TANTO, TANTO!
Autor: Trish Cooke/, Editora Ática
- Chapeuzinho Amarelo
Autor: Chico Buarque/ Editora: José Olympio
- O Casaco de Pupa
Autora: Elena Ferrandiz/ Editora Jujuba – Frase E Efeito
- Menina Amarrotada
Autora: Aline Abreu /Editora: Jujuba – Frase E Efeito
- Bruxa, Bruxa venha à minha festa
Autor: Arden Druce/ Editora Brinque Book
- Patrícia
Autor: Stephen Michael King/ Editora: Brinque Book
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Condições e tratamentos
Ao cuidarmos de crianças e adolescentes que estão enfrentando adoecimentos muito diversos, ao priorizarmos a experiência singular de cada paciente, torna-se difícil compor quadros com indicações genéricas. Posto isso, vale considerar algumas dimensões para se pensar a experiência de adoecimento. São elas:
- Idade da criança;
- Tempo de duração do adoecimento;
- Início e resolução: abruto ou gradual;
- Gravidade do acometimento;
- Presença de dor e desconforto;
- Mudança da imagem corporal;
- Mudança na rotina da criança e da família;
- Risco de morte.
Há doenças e procedimentos que atingem a construção da imagem corporal, que podem ocorrer em momentos do desenvolvimento tão precoces ou fundamentais que a criança aprenderá a se conhecer e reconhecer a partir de um diagnóstico, de uma dor, sintoma, imagem ou equipamento. Tais condições deixam marcas importantes e não raro provocam mudanças na dinâmica e organização familiar que perduram para além do período de hospitalização.
Mesmo adoecimentos e procedimentos agudos, com vários níveis de gravidade, podem alterar a rotina e transformar as preocupações e a circulação dos afetos na família.
Da perspectiva familiar, o adoecimento de um de seus membros pode imprimir alterações profundas na vida cotidiana, nos planos, nas relações afetivas e na capacidade produtiva. Um desafio de tal proporção requer tempo, flexibilidade, aprofundamento de parcerias e capacidade de transformação de todos os envolvidos.
Sejam quais forem estas características, a função do Setor de Psicologia Hospitalar é avaliar os riscos de desorganização pessoal e familiar, bem como pensar a possibilidade de construção de novos sentidos, a reorganização dos limites e o contorno de novos futuros. Por fim, em um momento de transformação como pode ser o adoecimento, é preciso compreender as etapas do tratamento sem antecipar o futuro e, sobretudo, estabelecer uma aliança terapêutica entre a família e equipe para otimizar as potencialidades a favor do restabelecimento da saúde.