
Canabidiol pode melhorar a qualidade de vida de crianças com epilepsia resistente a medicamentos
Medicamento não substitui o uso de anticonvulsivantes e precisa de avaliação médica caso a caso para os benefícios a curto e longo prazos
Condição neurológica caracterizada por descargas elétricas anormais e excessivas no cérebro, a epilepsia acomete cerca de 2% da população brasileira e mais de 65 milhões de pessoas em todo o mundo. Pacientes com epilepsia sofrem dificuldade no desenvolvimento cognitivo, além de risco de mortalidade superior à população geral. Embora existam medicamentos que ajudem a controlar as crises, cerca de 30% dos pacientes continuam apresentando crises mesmo com o uso de anticonvulsivantes, caracterizando o que chamamos de epilepsia refratária.
Nesses casos, a ztilização do canabidiol é uma alternativa utilizada pela ciência para trazer qualidade de vida a pacientes que não respondem ao tratamento farmacológico habitual. O canabidiol, também conhecido como CBD, é um dos compostos químicos da planta denominada cannabis, que apresenta potencial terapêutico para algumas doenças. Vale ressaltar que a substância não é psicoativa, ou seja, não promove a alteração da consciência e pode ser usada com segurança em crianças e adolescentes.
“O CBD vem sendo estudado como mais uma alternativa ao tratamento da epilepsia refratária, ao lado da dieta cetogênica e do tratamento cirúrgico para a epilepsia, que é a estimulação elétrica do nervo vago. Já usei o canabidiol em muitos pacientes e é uma alternativa muito interessante. Não se trata de um milagre, mas é uma boa opção e já conseguiu ajudar muitos pacientes, desde bebês até adultos”, explica a Dra. Conceição Campanário da Silva Pereira, neurologista pediátrica do Sabará.
Para a especialista, é necessário avaliar caso a caso se o canabidiol será uma boa alternativa, já que o tratamento possui efeitos adversos. “Temos que ser cautelosos aos efeitos adversos, especialmente hepáticos e em associação a medicamentos como o clobazam. Até o momento, temos estudos que mostram resultados satisfatórios do uso do canabidiol em diagnósticos como Síndrome de Dravet, Síndrome de Lennox-Gastaut e esclerose tuberosa. Nesses casos, saber o manejo correto do canabidiol e ter cuidado com as interações medicamentosas é essencial para que vejamos vantagens na qualidade de vida do paciente”.
Uma das questões mais graves da epilepsia é o declínio cognitivo causado pelas crises constantes, especialmente quando falamos de casos pediátricos. “Nesse cenário, o principal benefício do canabidiol é diminuir o número de crises. Assim que elas diminuem, a criança tem uma melhora cognitiva considerável. A melhoria depende do diagnóstico e da condição neurológica de cada criança, mas a ciência e vivência clínica mostram dados muito positivos. Em um primeiro estudo do uso do canabidiol, publicado em 2016 com pacientes entre 1 e 30 anos, a redução mensal média das crises foi em torno de 36,5%”, explica a médica.
Enquanto o uso não é ampliado no Brasil, o principal obstáculo do canabidiol é o preço. “É um medicamento muito caro e não temos no momento uma perspectiva de que isso vá mudar. Mas é importante continuarmos falando sobre isso e dos benefícios do uso, já que isso também aumenta o número de pesquisas sobre os efeitos”, completa a Dra.