Coração generoso
Caribe, praia, sol, beleza natural. É nisso que você pensa quando ouve falar em República Dominicana? A Dra. Grace Bichara, Coordenadora do Departamento de Cardiologia do Sabará Hospital Infantil, não foi ao país para tomar um bronze. Ela foi conhecer o outro lado da ilha, bem longe dos resorts, onde crianças cardiopatas pobres não tem acesso a tratamento.
A Dra. Grace passou 15 dias em Santo Domingo, capital da República Dominicana, realizando um trabalho voluntário pela International Children’s Heart Foundation (ICHF), que leva cirurgia cardíaca pediátrica para países onde não há esse serviço. O trabalho da ONG é realizado em diversas partes do mundo, em parceria com instituições locais. No total, já foram realizadas quase 8 mil cirurgias gratuitas em crianças cardiopatas do mundo todo.
Conheça a Internation Children’s Heart Foundation
A equipe de voluntários conta com médicos, enfermeiros, perfusionistas, entre outros, que trabalham junto com os médicos do hospital da cidade. Além das cirurgias em si, há um treinamento para que a equipe local possa realizar os procedimentos futuramente sem a ajuda internacional.
Dificuldades à vista
“O país é pobre, o hospital é pobre, as famílias são pobres. O hospital não dá refeição para os pacientes, a família tem que levar a comida”, conta a Dra. Grace. Muitas famílias vêm de longe e não têm onde ficar, dormindo sentadas nas cadeiras do hospital mesmo.
“É muito desafiador trabalhar num ambiente desse, que não tem todos os exames que você precisa, não tem os especialistas que você está acostumado, você opera crianças numa fase que não é a ideal, crianças muito mais velhas que já passaram do melhor momento cirúrgico. É tudo muito mais difícil. E você está trabalhando com pessoas que não conhece. Para mim ainda tinha a dificuldade da língua”, conta a Dra. Grace. Lá, ela falava em inglês com a equipe de voluntários, que vinha principalmente do Canadá e dos Estados Unidos, e em espanhol com os médicos locais e com as famílias. Para isso, fez questão de estudar a língua antes de viajar. “Eu fiquei pensando: as famílias estão passando pelo momento de maior dificuldade da vida delas, com a criança enfrentando uma cirurgia, o médico tem que saber se comunicar”, explica.
Ao longo desse período em que a Dra. Grace esteve lá, 15 crianças passaram por cirurgia e com bons resultados. Agora ela se prepara para participar novamente do projeto em 2018. “Já estou pensando para onde vai ser. Vou para onde precisarem”, diz.
Muito além da medicina
Este não foi o primeiro trabalho voluntário da Dra. Grace. Há 8 anos ela colabora com a Missão Cena, que realiza diversas ações na cracolândia. A médica começou atuando na creche da região, como pediatra das crianças, e acabou se apaixonando pelo trabalho com moradores de rua e usuário de drogas. Lá, já deu banho e distribuiu comida e roupa. Seu trabalho voluntário lá não tem nada a ver com medicina, ela ajuda no que for necessário.
“São pessoas que não recebem um abraço há anos. Ninguém olha para eles no olho, ninguém acha que eles são pessoas. Eles são marginalizados no sentido mais duro da palavra”, conta a Dra. Além da creche gratuita para as crianças da região, o projeto oferece atividades como aulas de futebol e Taekwondo para os maiorzinhos.
Para os adultos da cracolândia, há um espaço onde são servidas refeições, podem tomar banho e fazer a barba; um projeto de reabilitação que dura 9 meses numa fazenda fora da cidade; e a reintegração, que promove um ambiente familiar aos reabilitados, ajudando-os a encontrar um emprego.