Órfãos da Covid-19: quais impactos emocionais a pandemia pode trazer para a sociedade do futuro? - Hospital Sabará
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Órfãos da Covid-19: quais impactos emocionais a pandemia pode trazer para a sociedade do futuro?
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Órfãos da Covid-19: quais impactos emocionais a pandemia pode trazer para a sociedade do futuro?

“Se você parar agora e contar até 12, é o tempo que basta para haver um novo órfão por Covid-19 no mundo”. A afirmação é da cientista Susan Hillis, pesquisadora que liderou o primeiro estudo com estimativas globais sobre o número de crianças que enfrentam a dor do luto em decorrência da pandemia de coronavírus. 

 

O levantamento, publicado em julho na revista científica Lancet, apontou que, pelo menos, 1,5 milhão de crianças em todo o mundo perderam o pai, a mãe, um avô ou avó ou outro responsável em razão da Covid. Os números evidenciam uma situação extremamente preocupante, e ainda pouco debatida, com relação às consequências do cenário pandêmico para os nossos pequenos.    

 

Enquanto crianças, no geral, apresentam sintomas leves da doença, por outro lado, elas, ao perderem um dos seus cuidadores, tornam-se mais expostas a outros danos como insegurança alimentar, falta de moradia e de acesso à saúde e educação, além de abuso físico e violência sexual. 

 

Diante de questões tão desafiadoras, conversamos com a coordenadora do setor de psicologia do Sabará Hospital Infantil, Cristina Borsari, para entender quais os impactos emocionais que a pandemia pode trazer para a sociedade do futuro. Abordamos ainda como podemos individualmente, e também enquanto sociedade, nos organizarmos para minimizar os efeitos desse momento. Venha se somar conosco neste papo tão necessário e urgente, há uma geração que precisa ser cuidada por todos nós! 

 

A morte prematura dos pais

 

A atenção e carinho recebidos por um adulto de referência impactam diretamente no desenvolvimento infantil, tanto no aspecto da formação da personalidade como no crescimento intelectual. A partir de interações positivas com o outro, a criança experimenta desde cedo o contato com hormônios do prazer – como a noradrenalina, adrenalina e serotonina -, que contribuem para que ela encontre segurança no ambiente em que vive e cresça com mais confiança para explorar sua criatividade e obter aprendizados. 

 

Por isso, a psicóloga Cristina Borsari explica que uma das grandes preocupações, nos casos de morte prematura dos pais, é com o vazio do cuidado. “Quando a criança perde esse vínculo de proteção, ela desenvolve algo que a gente chama de desamparo afetivo. Esse desamparo afetivo vai trazer consequências como pessoas mais inseguras, mais agressivas; com dificuldades em lidar com frustração, situações conflitantes e formar vínculos afetivos”, destaca.

 

A privação de amor e cuidado também pode trazer problemas em diferentes tipos de convivência durante a vida adulta. “São pessoas que não vão conseguir se relacionar tão facilmente seja no mercado de trabalho, na própria relação afetiva amorosa, nas relações de amizade. A base delas vai ser esse desamparo e a insegurança, pela falta da proteção daquele que deveria prover isso”, reitera Borsari. 

 

E como amparar emocionalmente as crianças órfãs?

 

Não há como mudar, a morte de quem amamos dói. Lidar com a ausência de uma pessoa próxima é difícil, e pode provocar uma mistura de sentimentos como raiva, tristeza, angústia e culpa. Se para nós, adultos, enfrentar esse momento já é difícil, para as crianças, não é diferente. No entanto, negar ou mentir para os nossos pequenos, não irá protegê-los. 

 

Nossa psicóloga orienta que a verdade seja sempre a base do diálogo com as crianças, buscando abordar a situação de forma acessível para o nível de desenvolvimento delas. “A criança precisa falar sobre isso para elaborar essas dores, o sofrimento. Quando ela põe para fora, chora, e fala do assunto de alguma forma, seja desenhando, escrevendo ou verbalizando, ela vai ressignificando a sua própria história”, ressalta Borsari. 

 

Abrir espaço para que as crianças sejam ouvidas e expressem suas emoções é fundamental também para ajudá-las na própria compreensão do que é a morte. Borsari pontua que, por volta dos sete anos, é comum que os pequenos associem a separação do familiar como algo passageiro. “A criança já mais velha precisa do espaço em que ela possa falar sobre o sofrimento dela, sobre o quanto a vida dela mudou com a ausência, porque dependendo da idade a criança não entende o luto como uma perda definitiva, mas sim como uma perda momentânea”, observa a psicóloga. 

 

Bebês órfãos 

 

Em muitos casos, neste momento de pandemia, os filhos nem sequer chegaram a conhecer as mães. Infelizmente, a taxa de mortalidade da Covid-19 entre mulheres grávidas e puérperas no Brasil é alta. Segundo o relatório da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), divulgado em junho deste ano, em 2020, o país registrou 560 óbitos de mulheres nessas condições e, em 2021, mais de 1.156 mães já perderam suas vidas pela doença. 

 

Nessas circunstâncias, em que o recém-nascido é privado do contato com os pais, especialmente da mãe, há uma ruptura com os laços afetivos logo no início da vida, experiência essencial para o desenvolvimento da criança. Por isso, Borsari destaca que nessas situações é necessário que ocorra uma organização ao redor desse pequeno, para garantir que ele vivencie interações positivas: “O bebê precisa realmente ter uma família estendida, alguém que vai doar esse amor, que vai cuidar”.  

 

No nosso canal Saúde da Infância, no Youtube, você pode assistir a série “Reflexões sobre o Luto”. Ao longo de três episódios conversamos com especialistas e algumas famílias  sobre cuidados paliativos pediátricos; como abordar a morte com as crianças e como pais podem elaborar a morte de um filho. Confira lá!

 

Rede de apoio: familiares e cuidadores também precisam de suporte

 

As crianças precisam de auxílio no desenvolvimento de condições emocionais para enfrentarem a experiência do luto. No entanto, a morte é sentida por todo o núcleo familiar. A perda do pai, mãe, avô, avó, ou de mais de uma dessas pessoas ao mesmo tempo – situação que, infelizmente, não está sendo rara durante a pandemia-, é um acontecimento que provoca mudança e desorganiza o sistema de relações até então existente. E, muitas vezes, para além das questões emocionais, quem fica precisa enfrentar ainda uma reestruturação econômica e social.

 

Borsari chama a atenção para a necessidade do cuidado com os parentes responsáveis pela criança, pois eles também estão em luto: “O mais importante é que a família e os amigos acolham, deem apoio, mostrem amor, afeto e o quanto aquela vida é importante e o quanto eles podem contar com essas pessoas”.

 

A psicóloga ainda destaca que, diante deste momento de fragilidade, é fundamental a garantia de acesso a ajuda profissional: “A gente não pode cobrar dessa mãe ou desse pai que ficou que super proteja, que converse com o filho sobre a perda, porque pra eles também é difícil. Então, é preciso que eles contem com o apoio dos profissionais e que a gente tenha uma política pública que olhe para esses órfãos”. 

 

Políticas públicas 

 

Em entrevista à BBC News Brasil, a cientista Susan Hillis também enfatizou a necessidade dos governos tomarem ações imediatas de proteção às crianças que perderam seus cuidadores por conta da Covid. A pesquisadora destacou a importância de medidas que concedam não só apoio emocional, mas também financeiro: “Então, fica claro que precisamos trabalhar juntos para garantir que os pais ou cuidadores adotivos possam construir uma coesão familiar, que essas crianças sigam tendo oportunidades de permanecer na escola e precisamos assegurar seu fortalecimento econômico, inscrevendo-os em programas de transferência de renda, já que órfãos também acabam em situações econômicas altamente vulneráveis ​​quando quem falece de Covid-19 é também o chefe de família”.

 

Hills ainda reafirmou a importância da equidade na distribuição das vacinas e também da continuidade das medidas de prevenção – distanciamento social, uso de máscaras e higienização das mãos – para impedir a disseminação da doença e que mais crianças possam perder seus pais. 

 

Para ler outros conteúdos de apoio ao desenvolvimento infantil, acesse os links:

 

Relações de afeto contribuem para o desenvolvimento emocional e intelectual das crianças

https://www.hospitalinfantilsabara.org.br/relacoes-de-afeto-contribuem-para-o-desenvolvimento-emocional-e-intelectual-das-criancas/?utm_source=redes+sociais&utm_medium=redes+sociais&utm_campaign=post+org%C3%A2nico&utm_content=Rela%C3%A7%C3%B5es+de+afeto+c

 

O bichinho de estimação morreu; e agora como contar para a criança?

https://www.hospitalinfantilsabara.org.br/o-bichinho-de-estimacao-morreu-e-agora-como-contar-para-a-crianca/?utm_source=redes+sociais&utm_medium=redes+sociais&utm_campaign=post+org%C3%A2nico&utm_content=O+bichinho+de+estima%C3%A7%C3%A3o+morreu%3B+e+agora+como+contar+para+a+crian%C3%A7a%3F

 

Direito à infância: a importância da humanização no atendimento de crianças hospitalizadas

https://www.hospitalinfantilsabara.org.br/direito-a-infancia-a-importancia-da-humanizacao-no-atendimento-de-criancas-hospitalizadas/

 

Pandemia: como ajudar os adolescentes a lidar com os desafios do isolamento

https://www.hospitalinfantilsabara.org.br/pandemia-como-ajudar-os-adolescentes-a-lidar-com-os-desafios-do-isolamento/ 

 

1ª UTI pediátrica privada do Brasil: uma revolução na saúde infantil que começou com o Sabará

https://www.hospitalinfantilsabara.org.br/1a-uti-pediatrica-privada-do-brasil-uma-revolucao-na-saude-infantil-que-comecou-com-o-sabara/?utm_source=redes+sociais&utm_medium=redes+sociais&utm_campaign=post+org%C3%A2nico&utm_content=1%C2%AA+UTI+pedi%C3%A1trica+privada+do+Brasil:+uma+revolu%C3%A7%C3%A3o+na+sa%C3%BAde+infantil+que+come%C3%A7ou+com+o+Sabar%C3%A1 

 

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