Pandemia: como ajudar os adolescentes a lidar com os desafios do isolamento
Pandemia: como ajudar os adolescentes a lidar com os desafios do isolamento
Em março completou um ano que a quarentena, provocada pela pandemia da Covid-19, chegou de vez impactando a vida de todos nós. Manter o isolamento para frear a onda de transmissão do vírus é uma das principais medidas de controle da doença enquanto aguardamos a vacina para todos. Porém, sabemos que restringir os contatos físicos de quem gostamos não é uma tarefa fácil, ainda mais quando se é adolescente ou jovem – fase em que a interação social é tão importante.
O momento para eles realmente é de descobertas, novas experiências, consolidação da identidade e, por isso, a busca pelo pertencimento “fora” do núcleo familiar seja tão marcante. Esse comportamento característico e natural dos adolescentes é o que preocupa órgãos públicos e de saúde, pois apesar de, no geral, apresentarem sintomas leves da doença, podem ser transmissores para pessoas mais propensas aos quadros graves, como idosos e portadores de doenças crônicas.
No outro lado, há aqueles que adotaram a quarentena e têm sentido o impacto emocional devido à reclusão. Um estudo, coordenado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), com mais de 9 mil jovens de todo o Brasil na faixa de 12 a 17 anos, apontou que eles têm sofrido com alterações de humor, piora na saúde e adoção de hábitos alimentares não saudáveis. Ainda de acordo com a pesquisa, 48,7% dos adolescentes relataram sentir preocupação e nervosismo com frequência ou sempre durante a pandemia.
E vocês, pais de adolescentes, como essa situação tem sido vivida na sua casa? Fiquem com a gente, porque vamos falar como os pais podem conversar sobre isolamento com seus filhos, incentivando-os a aderirem às medidas protetivas e também a perceberem quando a situação tem causado sofrimento emocional ao adolescente.
Diferentes contextos da quebra do isolamento entre jovens
Muitos adolescentes, juntamente com os jovens, vêm se arriscando em aglomerações em encontros com amigos e festas – comportamento relacionado por especialistas ao crescimento do contágio de Covid-19 neste grupo.
Em dezembro, dados da Secretaria de Saúde de São Paulo apontaram que, desde o início da pandemia até aquele período, 60% dos casos de contaminação eram em pessoas com idade entre 20 e 49 anos. Entre os mais novos, com idade de 10 a 29 anos, também houve aumento no número de infecções. Nos doze primeiros dias do ano, o estado de São Paulo bateu recorde de contaminados nessa faixa etária.
Para além das situações de desrespeito às regras de distanciamento para entretenimento, há, ainda, o contexto de desigualdade social vivido por muitos jovens e adolescentes. A Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) divulgou um alerta no ano passado de que fatores como pobreza e falta de acesso a recursos de saúde também estão relacionados ao crescimento desproporcional da doença entre adolescentes da América Latina e Caribe.
Escuta ativa e o despertar para a responsabilidade coletiva
E quando a quebra do isolamento físico pode ser evitada, mas os adolescentes insistem em saídas por diversão? Nessas situações, a psicóloga do Sabará Hospital Infantil, Camila Bassi Peschanski , afirma que é preciso abrir um diálogo que auxilie o adolescente a ter uma consciência coletiva. “O papel dos pais é trazer os adolescentes para o mundo real, mostrar o que está acontecendo no mundo e como as nossas decisões impactam os outros” afirma.
Peschanski ainda explica que, ao conversar sobre as informações que estão circulando, é importante os pais auxiliarem os filhos a desenvolver um pensamento crítico sobre os dados e as situações vistas. Essa intermediação – analisando notícias, desmentindo fake news e esclarecendo dúvidas – ajuda também os adolescentes a lidar melhor com o momento, pois, assim, não ficam sozinhos digerindo os sentimentos gerados por esse contexto.
E por falar em emoções, a psicóloga destaca que precisa realmente ser um diálogo, com os pais abertos a ouvirem seus filhos e também abrindo espaço para os adolescentes partilharem o que sentem. “Depois de ter essa conversa é importante perguntar: Como ficou pra você?’”, orienta.
Conversar sobre alternativas
Outro ponto importante na conversa são as alternativas. Os pais podem auxiliar os adolescentes a pensarem ou organizarem alguma atividade virtual com os amigos, mas sempre conversando sobre o cuidado com o que é publicado e com o tempo frente aos equipamentos eletrônicos.
Sobre isso, Peschanski afirma que os pais também precisam reconhecer quando uma eventual saída é necessária por uma questão de saúde mental: “Se o adolescente diz que precisa sair porque não está mais aguentando, os pais podem pensar em como minimizar o risco dessa saída porque ela é necessária”.
Nessas situações, os cuidados continuam os mesmos: utilize máscaras (dê preferência, se possível, para os modelos N95/Pff2), higienize as mãos com frequência, evite aglomerações e busque ambientes abertos. É importante ficar atento às regras da fase restritiva do seu município. Outra dica é manter a bolha de contatos que o filho está inserido, por exemplo, encontrando um amigo que já faça parte do seu grupo de aula presencial.
Quando o distanciamento social está dentro de casa
Com o turbilhão de transformações – físicas, psíquicas e hormonais – vividas na adolescência, é comum que o relacionamento entre pais e filhos enfrentem algumas tensões a mais durante essa fase. Conversar com adolescentes é também um exercício profundo de empatia, resgatando como foi viver esse período e, com isso, não desprezar suas emoções e sentimentos.
Peschanski ressalta que esse canal de diálogo entre pais e filhos deve ser construído com os filhos desde pequenos. “A maior parte das crianças e adolescentes que não estão bem psiquicamente agora na pandemia já não tinham uma relação saudável com os pais. E agora com a convivência extrema dentro de casa ficou mais evidente. Não é porque você está próxima fisicamente que você está próxima psiquicamente”, alerta.
Aliado aos problemas familiares, a falta de rotina escolar e restrição dos encontros com amigos – muitos alunos estão em esquema de rodízio de aulas presenciais – podem intensificar crises de ansiedade e depressão nos adolescentes. Por isso, a psicóloga orienta que se busque ajuda de um profissional de saúde sempre que identificar que as emoções estão intensas a ponto de dificultar a realização de atividades por parte dos filhos ou, ainda, quando o relacionamento entre eles se tornou muito difícil.
Atividades em família
Se o diálogo é um caminho a ser construído, sempre há tempo de se começar. Quando se pensa em um momento de boa interação em família, logo vem à mente um jogo ou uma dinâmica artística. Todas essas atividades são super bem-vindas, mas Peschanski explica que não precisa ser nada muito elaborado como os pais normalmente pensam.
A psicóloga conta que o contato mais próximo começa na rotina de intimidade da casa. Dessa forma, é muito mais fácil que os diálogos aconteçam sem ser invasivos para os filhos, especialmente quando são adolescentes. “Você está lavando louça junto aí você conversa de uma coisa, comenta outra, quando você vê já está conversando, não precisa ser uma pergunta direta: ‘o que você está sentindo hoje?’”, observa.
Leia mais:
https://institutopensi.org.br/blog-saude-infantil/conversar-com-adolescentes/
https://www.hospitalinfantilsabara.org.br/sintomas-doencas-tratamentos/medicina-do-adolescente/
https://www.hospitalinfantilsabara.org.br/recursos-para-adolescentes/